Exposições


 

2023 - Paisagens Afetivas

A exposição coletiva "Paisagens Afetivas" reúne 15 artistas cearenses ou radicados no Ceará e lança um olhar nas propostas artísticas que exploram o gênero da paisagem, a partir de um amplo repertório de referências visuais. 

A narrativa da exposição se desenvolve em torno da percepção da paisagem e estimula o espanto e a contemplação para recriar a ligação entre o homem e a natureza. A paisagem se tornar a mediadora da nossa relação com o mundo, conectando duas entidades que normalmente não estão relacionadas: a sociedade e a natureza. Se os artistas tomam a paisagem como patrimônio pictórico, é através da sua investigação que nos ensinam a perceber a profundidade da realidade que os remete para a sua própria interioridade.

Celebrar a paixão criativa, afastar-se do caos e se aproximar da poesia, sentir a ligação entre o homem e a natureza e encher-se de esperança. Transformar a nossa relação com a realidade, reinventar paisagens através da percepção de nossos sonhos, com formas emprestadas do reino humano ou vegetal, criaturas animais híbridas que contam a história de um território. É isso que a exposição convida a descobrir! 

2023 - Corpo Pintura

Pintura é cor e corpo em ação, movimentos gestuais enveredados por Ivan Guimarães, em formas orgânicas abstratas, que, em alguns momentos, margeiam as bordas e para além delas. Um processo de abstração que vincula, necessariamente, seu resultado ao universo no qual, embora abstraído, ele tem origem. No entanto, reserva intacta a necessidade de intuição, de imaginação do artista e do público. 

Tudo à volta de Ivan influencia seu trabalho, o que se conecta à teoria da “circunstância”, do crítico Frederico Morais, a qual enfatiza que o momento da criação leva em conta o ambiente de trabalho, por exemplo, se o artista coloca o suporte num cavalete ou sobre uma mesa, se pinta à noite ou de dia, com música ou em silêncio, inspira-se em fatos cotidianos, no seu repertório intelectual, nos trajetos urbanos, nas interlocuções, no seu olhar sobre o mundo. São os fatos externos a influenciar o trabalho de Ivan, decorrentes da sua subjetividade. Nesse sentido, sua abstração não é uma recusa do mundo exterior, mas uma expressão pessoal do seu “estar no mundo”.

Nos seus trabalhos em gravura, também é possível identificar essas características cuja  concepção deriva de acumulações de detalhes descobertos nos trajetos urbanos do artista: galhos caídos, estrias dos muros e materiais deixados ao acaso na rua são utilizados como matrizes impressas no instante da descoberta. Algumas dessas impressões continuam em processo, no ateliê do artista, com incorporações de outras matrizes talhadas por ele. 

Nas suas pinturas, Ivan se vale de qualquer pigmento que esteja à mão. Em um momento pode ser lápis e, em outro, pigmento acrílico. As formas vão surgindo no processo guiado pelo sentimento e pelas interações das cores, essenciais para dar a materialidade dos trabalhos em que a liberdade ocupa um lugar central de sua produção, aliada à ação do corpo que se debruça sobre o suporte colocado horizontalmente, com toda a sua força do gestual e visceral, diferentemente das pinturas denominadas de cavaletes. 

 Assim, a pintura de Ivan é a experiência da cor levada ao suporte artístico e mediada pela sensibilidade, memória ou pela própria linguagem da pintura e do corpo. 

 

Jacqueline Medeiros
Janeiro/2023

 

2022 - Art Source – Dublin: O colecionador de paisagens 

Ivan Guimarães vive em uma região do Brasil reconhecida como tradicional na xilogravura, uma técnica que, originariamente, consiste em esculpir em alto-relevo em um pedaço de madeira, possibilitando a impressão do espelho da imagem talhada sobre o papel. A xilogravura, nos seus primórdios, era utilizada como imagem ilustrativa de folhetos de literatura de cordel, escritos frequentemente de forma rimada e originados de relatos orais sobre a vida no campo do Nordeste do Brasil. Por isso, a xilo tradicional tem como características os traços firmes e identitários da cultura nordestina brasileira.

No entanto, Ivan tira proveito da contemporaneidade do tempo de hoje ao capturar panoramas conflitantes ou multifacetados da sua rotina urbana, em que todo fenômeno diário é suscetível de se tornar ato artístico a partir da percepção do artista, o que é uma questão de escolha. Também não lhe interessa a estética figurativa que o cordel solicita, mas, sim, a captura do instante de um detalhe mínimo da paisagem. Assim, as xilos assumem um lugar na denominada Arte Contemporânea. 

É possível identificar essas características nos trabalhos aqui apresentados cuja a concepção derivam de acumulações de detalhes descobertos nos trajetos urbanos do artista: galhos caídos, estrias dos muros e fragmentos de objetos da rua são utilizados como matrizes no instante da descoberta. Algumas dessas impressões continuam em processo, no ateliê do artista, com incorporações de outras impressões de matrizes de xilo desenvolvidas para tencionar a poética das obras. 

Um dado importante é que os trabalhos dessa série são, na sua grande maioria, obras únicas com matriz perdida, uma vez que a impressão é feita em vários estágios, e cada um deles significa a impossibilidade de repetir a impressão do estágio anterior, assim como na paisagem natural.

Ivan realiza ação de um colecionador de paisagem a registrar o que o seu olhar captura e o que pode lhe escapar no minuto seguinte. Paisagem também no sentido da definição na geografia, em que tudo aquilo que os sentidos humanos podem captar é paisagem, aquilo que a visão consegue enxergar e o que a audição escuta. Nesse sentido, tudo que o ser humano consegue sentir é uma paisagem, as xilos capturadas por Ivan, como ele afirma, “existe ali uma vida que está se alterando sempre, vou ao seu encontro observando esses movimentos, espaços, objetos que passam a ganhar outros sentidos e significados nos meus trabalhos”. 

A busca do artista é no sentido de que o papel possa receber as projeções livres e imediatas apreendidas pelo ato de transformação do instante com o mínimo de intervenção de dados racionais. Para o artista, é um modo de absolver e devolver ao mundo o que o inquieta e não pode ser represado. É o resultado do livre exercício da subjetividade, como expressão de um sentimento particular que corresponde não só ao artista, mas a uma visão cósmica. 

Jacqueline Medeiros
Novembro/2022